historia e historias

10-04-2014 18:23

  Se dermos uma vista de olhos sobre a gastronomia do Alentejo, imediatamente identificamos produtos e práticas de cozinha com a cultura muçulmana. As semelhanças permitem concluir que a cozinha árabe foi a verdadeira matriz da cozinha alentejana. Quase todo o receituário tradicional do Alentejo tem fortes e diretas influências da cozinha árabe, subtraindo todas as que estão diretamente ligadas ao consumo do porco.

    Existem influências directas e importantes dos comportamentos alimentares dos povos que viveram no Alentejo, na actual alimentação alentejana, determinadas receitas ainda em plena execução, encontram-se fixadas há vários séculos na sua forma e na sua interpretação, por exemplo, o Ensopado de Borrego é cozinhado nos nossos dias da mesma forma como era cozinhado um ensopado árabe segundo receitas do século VIII.

     A escassez dos recursos e a simplicidade dos paladares estiveram na génese da «tharîd», pão mergulhado num caldo aromatizado e temperado com azeite. Com ela poderia comer-se qualquer coisa; carne, peixe ou vegetais acompanhavam normalmente a «tharîd», um prato simples, muito elogiado por Maomé e que constituía uma refeição completa, um luxo para alguns. Também conhecida com tarida (Târida vem da raiz Târada, que significa «migar pão»), esta receita deve ser considerada como o arquétipo da famosa Açorda Alentejana, opinião que é partilhada por alguns historiadores da alimentação durante o período islâmico.

     Do período romano há noticias de uma sopa feita de ervas aromáticas, alho, pão, azeite e água. A açorda atravessou culturas e os árabes fixaram-na definitivamente, levaram-na a um estatuto de «prato real», estatuto que vigorou até ao século XIV, na corte dos Merimides, em Fez.